A Energia do Brasil
BRASÍLIA [ ABN NEWS ] — Atendendo convite da FENAI – Federação Nacional de Imprensa, fui à Porto Velho participar do 14º Ciclo de Conferências da Imprensa Brasileira por ocasião do 19º ENAI – Encontro Nacional das Associações de Imprensa, onde fiz uma palestra sobre “Hidrelétricas e o Desenvolvimento da Amazônia”.
Como o tema da palestra era em razão da construção das Hidrelétricas de “Santo Antonio” e “Jiráu”, no rio Madeira, em Rondônia, comecei discorrendo sobre os dados históricos do setor elétrico nacional, a partir da criação da CHESF (Centrais Hidrelétricas do São Francisco) em 1945 e da proposta de criação da ELETROBRAS (Centrais Elétricas Brasileiras) em 1954, ambas da iniciativa do saudoso Presidente Getúlio Vargas, bem como da criação, em 1949, da Escola Superior de Guerra (ESG), que, ao longo dos anos 50, dedicou-se ao estudo da geopolítica brasileira, direcionada à segurança e ao desenvolvimento cujos estudos desaguaram num “Relatório Reservado” no inicio dos anos 60, que, em síntese, dizia que o Brasil, estrategicamente, deveria promover o aproveitamento dos potenciais hidrelétricos existentes no seu interior, visando produzir a eletricidade de que precisava para o seu desenvolvimento socioeconômico, pois, do contrario, correria o risco de ficar cada vez mais dependente dos Países produtores de petróleo, uma vez que, na época dependia quase que 100% do petróleo importado para gerar sua energia elétrica.
Com base neste “Relatório Reservado”, da ESG, o então Presidente João Goulart iniciou os entendimentos com o governo do Paraguai, visando o aproveitamento do potencial hidrelétrico do rio Paraná, na fronteira com aquele País vizinho, que, de certo, continuaram nos governos dos Presidentes Castelo Branco e Costa e Silva, sendo que neste ultimo foi assinado o acordo para a formação de uma empresa binacional para construção de Itaipú, na época a maior hidrelétrica do mundo e cujas obras iniciaram no governo do General Médici. E, orientado pelo citado “Relatório Reservado”, o governo Emílio Garrastazu Médici, criou o “Projeto RADAM” – para levantar e estudar todos os potenciais hidrelétricos da Amazônia e iniciou a construção das hidrelétricas de “Tucuruí” no Pará, “Paredão” no Amapá, “Balbina” em Manaus, “Samuel” em Rondônia, “Manso” em Mato Grosso, “Lajeado” no atual Estado do Tocantins e outras no Sul, Sudeste e Nordeste.
Estava estabelecida as bases de uma matriz energética limpa, bem como a luta contra a dependência do petróleo para gerar energia elétrica no Brasil. E como previu o “Relatório Reservado da ESG”, no governo do Presidente Ernesto Geisel ocorreu o primeiro “choque do petróleo” promovido pela recém-fundada OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que elevou o preço do petróleo de vinte e cinco centavos de dólar para onze dólares o barril, desorganizando quase todas as economias do mundo, inclusive a do Brasil, cujas hidrelétricas ainda estavam em obras, e, por conseguinte, continuava dependente do petróleo importado e do humor dos árabes.
No governo João Figueiredo, já no inicio dos anos 80, ocorreu o segundo “choque do petróleo”, quando o barril chegou a 32 dólares e o Brasil entrou numa enorme crise econômica, a ponto de comprometer quase que totalmente a sua receita com a chamada “conta petróleo”. Mas, como Deus é brasileiro, eis que foram concluídas as obras de construção das barragens e instaladas as primeiras maquinas de Itaipú, Tucuruí e de algumas outras hidrelétricas. E conforme iam entrando em operação outras maquinas, ia diminuindo a conta petróleo. Foi o tempo em que foram criadas as contas da RGR (Reserva Globa l de Reversão) para financiar a construção de linhas de distribuição; apressar o desligamento das usinas termoelétricas; além da CCC (Conta de Consumo de Combustíveis) que, a rigor, subsidiava a energia dos chamados Sistemas Isolados da Amazônia, que, via de regra, eram alimentados por grupos-geradores a diesel. Infelizmente no governo Dilma Rousseff, tanto a “RGR” como a “CCC” foram extintas e o Brasil voltou a depender do diesel, para alimentar as termoelétricas que complementam o fornecimento de energia. Dai a necessidade de se construir novas hidrelétricas na Amazônia, até para baratear os custos de geração.
[*] Nicias Ribeiro, Especialista em Energias, é Jornalista, Articulista e Engenheiro Eletrônico.