Congoleses recém-chegados a Uganda na fronteira de Bunagana.

KAMPALA, UGANDA [ ABN NEWS ] — Os últimos combates no leste da República Democrática do Congo (RDC), além de terem estimulado a saída dos rebeldes de seus redutos, forçaram mais de 10 mil civis a buscar segurança em Uganda.

O combate que mobiliza o governo congolês e tropas da ONU contra forças rebeldes do M23 na província de Kivu do Norte teve início há uma semana. Na última segunda-feira, os civis deslocados começaram a atravessar em direção ao distrito de Kisoro, no sul de Uganda, pela cidade fronteiriça de Bunagana.

Desde então, mais de 10 mil pessoas atravessaram Bunagana, incluindo 8 mil na última quarta-feira, segundo registros do ACNUR. De acordo com a imprensa, o governo havia capturado Bunagana no dia 30, mas trabalhadores humanitários ainda ouviram som de tiros e explosões antes de deixar a fronteira por razões de segurança, pouco antes de um ataque aéreo que deixou feridos em Uganda.

Até o momento, houve a confirmação de dois refugiados feridos. Uma ambulância da Medical Teams Internacional foi enviada à fronteira para resgatá-los e avaliar a situação. Antes desse incidente, os funcionários do ACNUR estimavam que cerca de 3 mil pessoas tinham retornado a Kivu do Norte com o incentivo das tropas do governo.

O último combate em Kivu do Norte também forçou cerca de 2.500 pessoas a procurar abrigo em Ruanda, de acordo com o governo de lá, mas a maioria parece ter retornado.

No distrito de Kisoro, em Uganda, desde segunda-feira o ACNUR tem organizado o transporte de mais de 2.940 pessoas da área de fronteira para um centro de trânsito em Nyakabande, a cerca de 20 quilômetros de Bunagana. Muitos outros estão acampados em espaços abertos ou improvisados enquanto o ACNUR trabalha para transportá-los para Nyakabande antes da volta das chuvas.

Há também cerca de 400 pessoas acampadas em Kanobe, uma fronteira não oficial e sem acesso por estrada. A Agência da ONU para Refugiados trabalha com as autoridades da fronteira para chegar a estas pessoas e trazê-las ao centro de trânsito de Nyakabande, onde são oferecidos abrigo, alimentação e primeiros socorros. O centro de trânsito tem capacidade máxima para 30 mil pessoas.

O ACNUR posicionou suprimentos para cerca de 5 mil refugiados e mobiliza mais recursos para atender o número crescente de pessoas. A agência também está construindo dois novos abrigos coletivos, que serão capazes de acomodar mais de 300 pessoas cada um.

Nos últimos meses, o número de recém-chegados de Kivu Norte para Nyakabande havia caído para cerca de 20 por dia, enquanto as negociações de paz estavam em curso em Kampala entre o governo da RDC e o M23 – que reúne soldados desertores que tomaram as armas em abril do ano passado. Em novembro de 2012, o M23 tomou brevemente a capital de Kivu do Norte, Goma, antes do início das negociações de paz em dezembro. Mas este ano o governo ganhou terreno com a ajuda de uma recém-criada brigada de intervenção da ONU.

Enquanto isso, o ACNUR teme que Nyakabande enfrente uma forte pressão por recursos se mais pessoas continuarem a atravessar a fronteira. “Uma de nossas principais preocupações no momento é água e saneamento”, disse o coordenador sênior de campo do ACNUR, Maureen McBrien. “Essas são as áreas mais críticas em qualquer grande fluxo de pessoas. No momento temos latrinas suficientes para cerca de 3.500 refugiados, estamos trabalhando com esta prioridade para acomodar os recém-chegados.”

A maioria das pessoas que chega é constituída por mulheres e crianças, em geral deixando áreas distantes até 15 quilômetros da fronteira. Muitos levaram animais, incluindo caprinos e ovinos.

Em 2013, o ACNUR ajudou cerca de 50 mil pessoas que deixaram a República Democrática do Congo. Em Uganda, congoleses compõem 65% de toda a população refugiada, a maioria chegou nos últimos três anos.

No nordeste do Congo, de 4 mil a 6 mil refugiados atravessaram a fronteira para a região noroeste de Uganda por meio da província Orientale para escapar dos combates de um novo grupo rebelde chamado M18. Há relatos de que eles estejam deixando um rastro de destruição, saqueando propriedades, batendo nas pessoas que se recusam a deixar a área de Kakwa e até mesmo queimando aldeias.

Em março, o M18 foi notícia quando seu líder e coronel Eric Zachariah Ndosa foi preso em Uganda por assaltantes não identificados da RDC, mas interceptado pelo exército de Uganda antes de ser tirado do país.

No último domingo, o ACNUR realizou uma missão de vigilância na fronteira em conjunto com funcionários do governo federal e funcionários distritais de Koboko para determinar o número de chegadas. Essas pessoas estão sendo registradas por oficiais do distrito e transportadas para um centro de juventude fora da cidade de Koboko. Elas serão transferidas para o acampamento de Rhino, no distrito de Arua – a cerca 105 quilômetros de distância – que até agora tem recebido refugiados sul-sudaneses.

Por Lucy Beck em Kampala, Uganda (ACNUR)

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